Morre Brandão, grande poeta e letrista da música cearense

Brandão em 2018, em foto cedida por Mona Gadelha (esquerda) e Brandão no making of do filme
Brandão em 2018, em foto cedida por Mona Gadelha (esquerda) e Brandão no making of do filme “Cauim”, de Ednardo (Foto: Maira Sales/Cauim – Ednardo)

Morreu Brandão, um dos grandes letristas da música cearense, na noite do último domingo, 2, por uma pneumonia que evoluiu para uma septicemia. Poeta, compositor, arquiteto, artista plástico, esse piauiense que fez-se encanto no Ceará deixa a sua poesia viva na interpretação de artistas Brasil afora.

Da geração da efervescência cultural das décadas de 1960 e 1970, em Fortaleza, Brandão iniciou essa trajetória ainda na faculdade de Arquitetura, na Universidade Federal do Ceará (UFC). Ele quem criou a capa do I Festival de Música Aqui (1968) e a capa do álbum Massafeira Livre (1979), do movimento cultural homônimo. Sua poesia foi interpretada por artistas como Nara Leão, Ednardo, Mona Gadelha, Fagner, Mimi Rocha e muitos outros.

Mais do que nunca, Antônio José Soares Brandão lembra: “Quando não mais houver poesia / na triste canção da mesa de um bar / É preciso entender que perdida / pela vida uma estrada caminha / E que uma cidade sozinha / não comporta a procura da vida / É preciso sair pelo mundo”. Tais versos são de “Além do Cansaço”, parceria de Brandão com Petrúcio Maia.Quero conteúdo exclusivo!

As incertezas de uma pandemia impediram a poesia das canções entoadas nas mesas dos bares. Não há possibilidade de se encontrar, tão pouco aglomerar. Brandão já havia dito que uma cidade, sozinha, não dá conta da vida, mas sair por aí também não seria possível agora. De alguma forma, ele decidiu caminhar por estradas invisíveis. Certamente, em busca da poesia.

Para o cantor e compositor Ednardo, as letras de Brandão “são, na verdade, poesias que por si só existem”. Parceiros de longa data, os dois realizaram diversas músicas juntos, como “Alazão”, “É Cara de Pau”, “Duas Velas”, “Vaila”, “Classificaram”, “Boi Mandingueiro” e muitas outras. Brandão também fez as artes gráficas do disco “Cauim” (1978) e do já citado “Massafeira Livre”. E Ednardo editou o primeiro livro de poesias de Brandão, “Todas As Noites”, pela sua editora.

“Estou abalado emocionalmente pelo falecimento do parceiro Brandão… Sua importância para a Música Brasileira é imensa. Outros colegas de música também realizaram parcerias com ele, em reconhecimento ao seu intenso brilho poético. Estou muito triste e gostaria de agradecer a este imenso artista e parceiro”, diz Ednardo, que cita: “Os olhos umedecem/ E as bocas não emudecem/ Porque as ânimas poéticas agradecem/ Valeu Brandão”.

Mona Gadelha, cantora, compositora, jornalista e produtora cultural, lembra que Brandão “é um dos maiores letristas da música brasileira”. Entre as “obras-primas”, a artista destaca “Alazão”, “Frio da Serra”, “Além do Cansaço”, “Beco dos Baleiros” e “Pé dos Sonhos”. No álbum “Praia Lírica – um tributo à canção cearense dos anos 70”, Mona gravou “La Condessa”, canção de Brandão em parceria com Ricardo Bezerra e Ribamar.

“Foi uma alegria reencontrar com ele, pelo menos um pouco. Fazer uma foto, contar da minha grande admiração”, conta. Daí, nasceu o show “Brandão 70 anos” (2018), com Mimi Rocha e Marcus Vinnie, no Cantinho do Frango. A apresentação, inclusive, contou com a presença de Ednardo. Mona lembra com carinho de quando Brandão foi assistir ao show “Maraponga 40 anos”, no Cineteatro São Luiz, produzido por ela, Ricardo Bezerra e Maira Sales. Uma revisita ao LP “Maraponga”, gravado em 1978.

O POVO online – Por LUIZA ESTER20:47 | 03/05/20210FacebookTwitter

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.